Na Terceira Meditação, Descartes 'prova' a existência de Deus. Faz três demonstrações: Luz da Razão, Princípio de Causalidade e Criação e Conservação. Neste fiched, destacaremos a segunda demonstração: Princípio de Causalidade.
Princípio de Causalidade ('realidade objetiva' sobre a égide do argumento ontológico): Descartes avança com "a aplicação do princípio de causalidade ao conteúdo das ideias", procurando determinar o quanto de realidade objetiva existe na própria ideia (quanto mais realidade objetiva, mais quantidade de ser), ou seja, a partir da noção de perfectibilidade (máxima realidade objetiva), a causa (um deus infinito e perfeito), explica o efeito (o homem finito e imperfeito, porém dotado da ideia de infinitude e perfeição). E esclarece o filósofo: "a ideia de um ser soberanamente perfeito, a qual se encontra em nós, contém tanta realidade objetiva, isto é, participa por representação em tantos graus de ser e de perfeição, que ela deve necessariamente provir de uma causa soberanamente perfeita" (DESCARTES, 1983, 81).
Princípio de Causalidade: o primeiro caminho para o exame do valor objetivo das ideias.
15) O valor objetivo das ideias. Refutado o senso comum, Descartes propõe uma segunda via: A natureza das ideias (formas de pensar). O filósofo, relacionando ideias,
questiona se elas realmente existem e se nelas lhes reconhecemos esse valor
objetivo, até o mais alto grau: sua realidade formal. Todas as formas de pensar provêm de nós
mesmo, mas, em se tratando de imagens (representações), algumas representam coisas diferentes entre si. "Aquelas que me
representam substâncias
são, sem dúvida, algo mais e contém em si, mais
realidade objetiva", (...)
"participam, por representação, num maior
grau de ser ou de perfeição do que aquelas que representam apenas modos ou acidentes"; e essa regra vale tanto para os conteúdos quanto para os seus graus de perfeição.
Definição de Deus: Deus, perfectibilidade, máxima realidade objetiva; e perfeição como um dom natural (inato): "Perfeição designa um bem que se deve naturalmente possuir". Aqui, Descartes nos apresenta o Ser, certa substância infinita: "Deus, soberano eterno, infinito, imutável,
onisciente, onipotente," (...), "tem certamente em si mais
realidade objetiva do que aquelas pelas quais as
substâncias finitas me são representadas". E é com base nessas diferenças de graus de ser, aplicando o princípio da causalidade, que irá demonstrar a
existência de Deus.
Deus : máximo grau de perfeição : máximo grau de realidade objetiva : substância infinita : máxima autonomia : causa dos modos : conteúdo do espírito.
Graduação de Realidade Objetiva: Ideia de substância infinita > Ideia de substância finita > Modos. Possuem diferenças quantitativas e qualitativas que serão usadas para justificar o princípio de Causalidade. No pensamento encontramos 1. Verdade Eterna (luz natural); 2. Ideias de Substâncias (coisas e seres); 3. Modos da Substância.
Substância e modos têm graus de perfeição formal, graus de conteúdos de ser. 'Substâncias' são (...) algo mais e contêm em si (...) mais realidade objetiva (...) participam, por representação, num maior número de grau de ser ou de perfeição do que aquelas que representam apenas modo ou acidente". Quanto mais propriedades, mais atributos: propriedades infinitas implicam maior perfeição, sendo maior que as propriedades finitas. Enquanto 'modo', "maneira como consideramos cada coisa enquanto ela continua sendo" (parag 20, MD III)
Deus : máximo grau de perfeição : máximo grau de realidade objetiva : substância infinita : máxima autonomia : causa dos modos : conteúdo do espírito.
Graduação de Realidade Objetiva: Ideia de substância infinita > Ideia de substância finita > Modos. Possuem diferenças quantitativas e qualitativas que serão usadas para justificar o princípio de Causalidade. No pensamento encontramos 1. Verdade Eterna (luz natural); 2. Ideias de Substâncias (coisas e seres); 3. Modos da Substância.
Substância e modos têm graus de perfeição formal, graus de conteúdos de ser. 'Substâncias' são (...) algo mais e contêm em si (...) mais realidade objetiva (...) participam, por representação, num maior número de grau de ser ou de perfeição do que aquelas que representam apenas modo ou acidente". Quanto mais propriedades, mais atributos: propriedades infinitas implicam maior perfeição, sendo maior que as propriedades finitas. Enquanto 'modo', "maneira como consideramos cada coisa enquanto ela continua sendo" (parag 20, MD III)
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IDEIA, segundo alguns termos utilizado por Descartes:
I. ideias são percepções que se referem a algo e o modo de perceber revela uma ideia inata de extensão;
II. modos elementares de 'substancias pensantes' cujo atributo principal é o pensamento;
III. a forma do pensamento (realidade formal), exibe um conteúdo mental à consciência;
IV. toda ideia têm uma realidade atual ou formal (conteúdo do pensamento, 'sendo o próprio sendo', Deus) e uma realidade objetiva (o entendimento).
V. possuem uma realidade objetiva: o conteúdo do ato exibido pela ideia, o entendimento; 'a representação' (inferência) do objeto como imagem da coisa ou do conteúdo mental que é exibido à consciência (particular); não uma cópia/reprodução, mas uma representação da realidade formal.
VI. ato modo do pensamento, modo objetivo.
VII. "toda ideia uma obra do espírito, sua natureza é tal que não exige de si nenhuma outra realidade formal além da que recebe e toma de empréstimo do pensamento ou do espírito, do qual ela é apenas um modo, isto é, uma maneira ou forma de pensar". (MD III, parag 17).
- Entendimento: consciência de si; a faculdade passiva de perceber ideias (conteúdos, essência possível);
- Vontade: a faculdade ativa de ação; e age de acordo com o juízo (V, F ou SJ 'suspensão de juízo'), deliberado a partir das ideias percebidas pelo entendimento;
- Razão: 'substancia pensante' cujo atributo principal é o pensamento.
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IDEIA, segundo alguns termos utilizado por Descartes:
I. ideias são percepções que se referem a algo e o modo de perceber revela uma ideia inata de extensão;
II. modos elementares de 'substancias pensantes' cujo atributo principal é o pensamento;
III. a forma do pensamento (realidade formal), exibe um conteúdo mental à consciência;
IV. toda ideia têm uma realidade atual ou formal (conteúdo do pensamento, 'sendo o próprio sendo', Deus) e uma realidade objetiva (o entendimento).
V. possuem uma realidade objetiva: o conteúdo do ato exibido pela ideia, o entendimento; 'a representação' (inferência) do objeto como imagem da coisa ou do conteúdo mental que é exibido à consciência (particular); não uma cópia/reprodução, mas uma representação da realidade formal.
VI. ato modo do pensamento, modo objetivo.
VII. "toda ideia uma obra do espírito, sua natureza é tal que não exige de si nenhuma outra realidade formal além da que recebe e toma de empréstimo do pensamento ou do espírito, do qual ela é apenas um modo, isto é, uma maneira ou forma de pensar". (MD III, parag 17).
- Entendimento: consciência de si; a faculdade passiva de perceber ideias (conteúdos, essência possível);
- Vontade: a faculdade ativa de ação; e age de acordo com o juízo (V, F ou SJ 'suspensão de juízo'), deliberado a partir das ideias percebidas pelo entendimento;
- Razão: 'substancia pensante' cujo atributo principal é o pensamento.
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O Princípio de Causalidade
16) Princípios de causalidade e
correspondência: a causa da realidade objetiva das ideias: alguma coisa além. Segundo Descartes, a "luz natural da razão" evoca o princípio da causalidade. De acordo com este princípio há "tanta realidade na causa eficiente e total [máximo grau de realidade objetiva] quanto no seu efeito [graus de realidade objetiva menor]: pois de onde é que o efeito pode tirar sua realidade senão da causa?". Esse raciocínio implica na total autonomia do ente, maior do que a substância, maior do que os modos da substância.
17) O princípio de causalidade "vale tanto no caso de uma realidade
atual ou formal [maior grau de realidade objetiva] quanto no caso de uma realidade
objetiva" [graus de realidade objetiva, consideração da realidade]. 1. "Seja uma substância existente em ato: [realidade atual ou formal] uma pedra ou um homem"; (...) "há na causa que a produziu pelo menos tanta realidade quanto nesta substância mesma". 2. Seja "a ideia que eu tenha desta substância" (realidade objetiva), o certo é que "há no ser existente (atual ou formalmente) que é causa desta ideia (ou desta realidade objetiva) pelo menos tanta realidade quanto nesta ideia mesma".
Ato do pensamento: a causa da realidade formal da ideia. Veja que é necessário que a realidade "esteja formalmente nas causas de minhas ideias, embora a realidade que eu considero nessas ideias seja somente objetiva". Essa maneira de ser objetivamente pertence às ideias. A maneira de ser formalmente "pertence à causa dessas ideias (ao menos às primeiras e principais)", em ato do pensamento com igual ou mais capacidade sobre o efeito.
Realidade Formal (na causa) X Realidade Objetiva (no efeito)
Ato do pensamento: a causa da realidade formal da ideia. Veja que é necessário que a realidade "esteja formalmente nas causas de minhas ideias, embora a realidade que eu considero nessas ideias seja somente objetiva". Essa maneira de ser objetivamente pertence às ideias. A maneira de ser formalmente "pertence à causa dessas ideias (ao menos às primeiras e principais)", em ato do pensamento com igual ou mais capacidade sobre o efeito.
Nada pode ser causa? Segundo o filósofo, não! A causa comunica parte da sua essência ao efeito: "O nada não poderia produzir coisa
alguma", nem o mais perfeito (com mais realidade), ser
uma decorrência do menos perfeito. E isso vale tanto para as realidades
atuais e formais como para a realidade
objetiva. Descartes usa o exemplo da pedra: "não pode
agora começar a ser, se não for produzida por uma coisa que possui em si
formalmente (...) tudo que entra na composição da pedra (...) contém em si as
mesmas coisas ou outras mais excelentes". (...) "uma causa contém 'formalmente' seu efeito quando ela é homogênea, e o contém eminentemente, no caso contrário".
Causa original: ideia formal, ato do pensamento como causa objetiva da ideia. Logo, para Descartes existe uma primeira ideia, a causa original, "na qual toda a realidade ou perfeição esta contida formalmente e em efeito, a
qual só se encontra objetivamente ou
por representação nas ideias" [argumento platônico].
Segundo o filósofo, é "evidente que há no ser
existente (atual ou formalmente), que é causa
desta ideia (ou desta realidade objetiva), pelo menos tanta
realidade quanto nesta ideia mesma".
Pensamento: o simples ato de exibir o conteúdo ao espírito: "a luz natural me faz conhecer evidentemente
que as ideias são em mim como quadros, ou imagens,
que podem facilmente não conservar a perfeição das coisas de onde foram
tiradas, mas jamais podem conter algo maior ou mais perfeito".
18) Algo existe além de mim: Descartes conclui que o eu pensante, com entendimento finito, não pode pensar algo infinito, e que não é a causa da realidade
objetiva de suas ideias, nem que exista sozinho no mundo, "mas que há algo
que existe e que é a causa desta ideia", e se pergunta "encontrei eu uma ideia cuja realidade objetiva seja tal que me seja absolutamente impossível imputar a sua causa a meu exclusivo pensamento?" (DESCARTES, 1983, 105).
19) O exame das diferentes ideias: Descartes então promove o exame das ideias primitivas que justificam o princípio de causalidade:
a. Ideias Adventícias e fictícias (animadas): formadas por mistura e composição (invenção): "representa um Deus"; "coisas corporais e inanimadas"; "anjos"; "animais"; "homens".
b. Ideias Formais (inatas): a ideia da 'cera' que contêm pouquíssima coisa 'clara e distinta'; ou seja, ideia de coisas corporais, inanimadas como na matemática (res extensa: extensão,
largura e profundidade) em suas relações com a figura, movimento, número e
tempo.
c. Ideias Sensíveis (fictícias): extensíveis, sensações de coisas obscuras e confusas, com certas qualidades
apreciadas pelos sentidos (luz, sons, sabores) ou quimeras.
Falsidade Formal (afirmação do juízo: V ou F) X Falsidade Material (conteúdo das ideias): por conseguinte, além dos juízos, onde podemos encontrar falsidade
formal e verdadeira, nas
ideias podemos encontrar falsidade
material pois 1. não temos a certeza delas terem qualidades reais ou não (pseudos-ideias); ou 2. porque representam
coisas que não existem (falsa representação); ou 3. porque "revelam tão pouca
realidade que não posso discernir nitidamente" (baixo grau de realidade objetiva). Logo, "exclusão das ideias sensíveis dos corpos".
20) Exclusão de uma primeira
classe de ideias das coisas corporais: ideias corporais têm grau baixo de realidade objetiva. O pensamento parece causar mais movimento material enquanto se relaciona com suas ideias inatas, causas ocasionais. O sujeito como causa eminente com mais realidade objetiva que efeito. Quanto ao conteúdo das ideias:
1. Ideias inatas (claras e distintas das coisas corporais): realidade formal (exibe conteúdo / representação), incluindo substâncias materiais e imateriais: número e tempo: mais realidade objetiva > modos.
2. Ideias corporais (obscuras): realidade objetiva (análise do conteúdo / representação e referência), incluindo substância, extensão e movimento: sujeito último de propriedades ou coisa dependente, finita (mente e corpo): menos realidade objetiva > modos da substância.
Solução Monista: Deus, sujeito último de inerência; várias substâncias pensantes que divide os diversos modos de uma única substância corpórea.
1. Ideias inatas (claras e distintas das coisas corporais): realidade formal (exibe conteúdo / representação), incluindo substâncias materiais e imateriais: número e tempo: mais realidade objetiva > modos.
2. Ideias corporais (obscuras): realidade objetiva (análise do conteúdo / representação e referência), incluindo substância, extensão e movimento: sujeito último de propriedades ou coisa dependente, finita (mente e corpo): menos realidade objetiva > modos da substância.
Solução Monista: Deus, sujeito último de inerência; várias substâncias pensantes que divide os diversos modos de uma única substância corpórea.
21) Exclusão de uma segunda classe
das ideias corporais, "dos
atributos que pertencem às coisas às quais são
atribuídas", a saber, extensão, figura, movimento... "como as vestes
sob as quais a substância corporal nos aparece"; aquelas que parecem que "podem
estar contidas em mim eminentemente"; ideias
"em mim" revestidas de um valor objetivo.
1. Ideia Homogênea (ideia formal): uma causa que contém 'formalmente' seu efeito;
2. Ideia Eminente (realidade objetiva): possui graduação de realidade objetiva.
1. Ideia Homogênea (ideia formal): uma causa que contém 'formalmente' seu efeito;
2. Ideia Eminente (realidade objetiva): possui graduação de realidade objetiva.
Princípio de Causalidade: Deus contendo um máximo de realidade formal e objetiva. "Como eu não posso ser a causa [imperfeito que sou], é mister concluir que deus existe".
O Efeito a prova da existência de Deus pelo seu efeito: uma ideia clara e distinta do pensamento para uma ideia de validade eterna e universal. Também o reconhecimento de existir no pensamento ideias investidas de valor objetivo, graduado, inferior à causa perfeita. A partir de uma certeza subjetiva e temporal, a verdade eterna e objetiva. Esta constatação confere verdade ao cogito "ainda que não pense nele atualmente", garantindo a verdade das ideias claras e distintas. Mas uma substância pensante não pode ser causa de uma substância infinita. A partir do efeito, se dirige para o princípio, o conteúdo da realidade infinita: "ainda que a ideia de substância esteja em mim
(...), eu não teria, todavia, a ideia de uma substância
infinita, eu que sou um ser finito,
se ela não tivesse sido colocada em mim por alguma
substância que fosse verdadeiramente infinita".
Três certezas foram reveladas (Meditação II):
1. parag. 4: "eu sou, eu existo", a existência enquanto pensamento;
2. parag. 7 e 9: "uma coisa que pensa" (sujeito de consciência): a natureza desse Eu é puro pensamento revestida de seus diferentes modos: imaginar, sentir, querer...
3. parag. 17: "o espírito é mais fácil de conhecer do que o corpo".
Primeira Verdade: A
'ideia' de Deus (máxima realidade objetiva), nos "envia necessariamente a
uma causa que conterá, no mínimo, um máximo absoluto de realidade formal".
Reflexões sobre essa 'primeira verdade': a ideia de Deus
23) A noção de infinito
como uma verdadeira ideia, e
não pela negação do que é finito. Diferente do modo como compreendemos os
contrários, temos aqui um infinito como 'ser' e 'perfeição', argumento positivo, em contraposição à privação ou carência que existe entre repouso e movimento / treva e luz: "há mais
realidade na substância infinita do que na substância finita"
(...) "tenho em mim a noção do infinito anterior à do finito, isto é, de
Deus antes de mim mesmo". A "ideia de um ser mais perfeito" que o próprio
homem e que, portanto, o faz compreender que "me falta algo" (...)
"em comparação ao qual eu conheceria as carências de minha natureza".
24) Essa ideia de Deus, 'materialmente
verdadeira' (realidade formal), "ideia mui clara e distinta, e contendo em si mais
realidade objetiva do que qualquer outra"; diferentemente das ideias sensíveis de "calor e frio" sujeitas à falsidade material pois não temos 1. a certeza delas terem qualidades reais ou não (pseudos-ideias); ou 2. porque representam coisas que não existem (falsa representação); ou 3. porque "revelam tão pouca realidade que não posso discernir nitidamente" (baixo grau de realidade objetiva), como já explicado no parágrafo 19.
25) A ideia real de Deus (realidade formal): "A ideia" (...) "desse ser
soberanamente perfeito e infinito é inteiramente verdadeira". (...)
"não se pode fingir" (...) "que sua ideia
não me representa nada de real".
26) Certeza 'hiperbólica' de Deus:
"tudo o que meu espírito concebe clara e distintamente de real e
verdadeiro, e que contém em si alguma perfeição está contido e encerrado inteiramente nessa
ideia".
27) Compreender (o Todo) X Conceber (a parte): Deus, realidade formal, ideia mais verdadeira "a mais clara e a mais distinta dentre todas as que
se acham em meu espírito" (conhecimento verdadeiro); Posso compreender o infinito a partir de 'minha' natureza finita e limitada, capaz de tocar o pensamento e conceber apenas uma parte do conteúdo dessa ideia (conhecimento parcial). Basta conhecer o atributo principal. Apesar de não conhecer todos os atributos de Deus, somos capazes de intuir a ideia de Deus, máximo grau de perfeição, porquanto a ideia (realidade objetiva) de ser existe na essência de todas as coisas, e de acordo com seus diferentes graus de ser e perfeição representados (formal ou eminentemente): "em Deus
uma infinidade de coisa que eu não possa compreender, nem" (...)
"pelo pensamento: pois é da natureza do infinito que minha natureza, que é
finita e limitada, não possa compreendê-lo; e basta que eu conceba bem isto, e que julgue que todas as coisas que concebo claramente, e nas quais sei que há alguma perfeição, e também uma infinidade de outras que ignoro, estão em Deus formal ou eminentemente".
Importância do
conhecimento: Descartes, assim como Aristóteles na sua Ética a Nicômaco[2], parecem aconselhar seguir o
caminho do conhecimento por uma via semelhante a já apontada por Platão,
em Teeteto[3]. No texto platônico, Sócrates alude a certa distinção
entre conhecimento (ter, saber, conceber, tocar uma parte do
todo) e sabedoria (possuir, conhecer "a conexão, o caminho"),
enquanto descreve a dupla caçada de um caçador de "pássaros
selvagens", que muito se assemelha a um caçador de conhecimento: "por
have-los apanhado e posto num aviário de sua propriedade, de onde os pode
retirar e ter quando quiser, agarrando e soltando de novo o que bem lhe
parecer". Na infância, a “gaiola está vazia, e em vez de pássaros
imaginemos conhecimentos [muitos pássaros voando]. Sempre que alguém adquire
conhecimento [um pássaro 'na mão', específico] e o fecha em tal recinto, diz
que ele aprendeu ou encontrou a coisa de que isso é o conhecimento, e que nisso
consiste, precisamente, o saber.” E arremata: "o aritmético perfeito não
conhece todos os números? Pois ele tem na alma o conhecimento de todos
eles" [compreende na alma].
28) Objeção (Potencia X Ato): Descartes se pergunta se o sujeito pensante pode ser a causa da perfeição em Deus, sendo também capaz de produzir ações? Ou seja, se o homem finito e imperfeito pode se aperfeiçoar para ser a causa primeira? Admite então que o homem, substância infinita, indefinida, tem a perfeição em potência, graus de realidade formal para a obtenção da ideia divina: "todas as perfeições que atribuo à natureza de um Deus estejam de algum
modo em mim em potência" (...)
"meu conhecimento aumenta e se aperfeiçoa pouco a pouco e nada vejo que
possa impedir de aumentar cada vez mais até o infinito", a ponto de alcançar um poder que de tão "acrescido e aperfeiçoado", possa atingir todas as perfeições da
natureza divina, sendo também capaz de "imprimir e introduzir suas ideias"; mas logo admite que há um limite para o homem, sua própria finitude, enquanto Deus, infinito e atual, tem a perfeição a um só tempo: em ato.
Um limite para a perfeição em potência: "essas vantagens não pertencem e não se aproximam de
maneira alguma da ideia que tenho da divindade,
na qual nada se encontra em potência, mas onde tudo
é atualmente e efetivamente". (...) "Demais,
ainda que meu conhecimento aumentasse progressivamente (...) não poderia ser
atualmente infinito", sempre sendo "capaz de adquirir algum maior
acréscimo". (...) "concebo Deus atualmente infinito"
(...) "nada pode se acrescentar à soberana perfeição que ele possui".
A Causa Formal: o axioma da causalidade exige que a causa de uma ideia objetiva tem que ter uma causa infinita e atual, causa formal, pois um ser potencial não pode ser causa do conteúdo das ideias: "o ser objetivo de uma ideia não pode ser produzido por um ser que existe apenas em potência" (...) o qual "não é nada, mas somente por um
ser formal e atual".
_________________________________
Continua: René Descartes, Meditação III (parag. 29-42) - Criação e Conservação
Texto Anterior: René Descartes, Meditação III (parag. 1-14) - Luz da Razão
Texto Completo: René Descartes (1596 - 1650)
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Texto Completo: René Descartes (1596 - 1650)
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[1] Descartes, René (1596-1650).
Meditações; introdução de Gilles-Gaston Granger; prefácio e notas de Gérard
Lebrun; tradução de J. Guinsburg e Bento Prado Junior. - 3. Ed. - São Paulo :
Abril cultural, 1983. Os Pensadores.
[2] ARISTÓTELES (348-322 a.C). Metafísica : livro 1 e livro 2 ; Ética a Nicômaco ; Poética ; seleção de textos de José Américo Motta Pesanha ; trad. Vincenzo Cocco; -- São Paulo : Abril Cultural, 1979; Cap 4, Livro I.
[3] PLATÃO. Teeteto, Versão eletrônica do diálogo platônico; Trad. Carlos Alberto Nunes; digitalização Membros do grupo de discussão Acrópolis (Filosofia): http://br.egroups.com/group/acropolis/, pg 60.
[2] ARISTÓTELES (348-322 a.C). Metafísica : livro 1 e livro 2 ; Ética a Nicômaco ; Poética ; seleção de textos de José Américo Motta Pesanha ; trad. Vincenzo Cocco; -- São Paulo : Abril Cultural, 1979; Cap 4, Livro I.
[3] PLATÃO. Teeteto, Versão eletrônica do diálogo platônico; Trad. Carlos Alberto Nunes; digitalização Membros do grupo de discussão Acrópolis (Filosofia): http://br.egroups.com/group/acropolis/, pg 60.
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