Filosofia, Educação e Tecnologias da Informação e da Comunicação

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Uma mundialização plural - Edgar Morin


Edgar Morin é um atuante educador e filósofo humanista francês. Ele acredita que esse estágio de globalização que vivemos hoje teve sua origem a partir do séc XVI com o avanço, mercantil-capitalista, das potências europeias sobre o mundo.

Nos últimos anos, essa expansão de mercados vê-se ainda mais pontencializada com as novas tecnologias de informação e comunicação. Esse processo de mundialização tecnoeconômica, mesmo que ainda contrariado pelas desigualdades econômicas e sociais, vem favorecendo uma outra mundialização: a de caráter humanista e democrático.

Segundo Morin, este é o último estágio de total ocupação e domínio do mundo pelo homem. Etapa que exige a emergência de uma nova sociedade: uma sociedade-mundo, dotada de um sistema de comunicação complexo (como o já existente: aviões, telefones, internet); de uma economia mundial (ainda desregulamentada); de uma civilização extensa (originada da “civilização ocidental”); e de uma cultura própria (com suas múltiplas correntes transculturais).

Esse traço comum de economia, civilização e cultura já se faz sentir no planeta na atualidade, ao mesmo tempo que uma soberania absoluta das nações, contraditoriamente emancipadoras e opressivas, dificulta o processo da criação de uma confederação planetária, em favor de uma cidadania terrestre.

Morin cita alguns movimentos civis precursores como a Associação Internacional dos Cidadãos do Mundo; as associações de Médicos sem Fronteiras; a Anistia Internacional; O Greenpeace; o Survival Internacional, além de outras inúmeras organizações internacionais e outros tantos encontros com debates que se dedicam aos problemas comuns da humanidade. Todos embriões de uma consciência de que somos cidadãos da terra.

“a globalização instalou a infraestrutura de uma sociedade-mundo que ela mesma é incapaz de instaurar”

Morin reforça a necessidade uma política mundial para a consagração do processo de uma sociedade-mundo confederativa, com uma política capaz de combater as injustiças e as denegações.


Talvez seja essa a síntese do seu pensamento mais polêmico. Ele mesmo adverte quanto as relações ideológicas entre as nações: “as resistências dos povos oprimidos são qualificadas de terrorismo pelos seus opressores” (...) “Pior ainda: a palavra terrorismo camufla os terrorismos de estado que praticam uma repressão cega contra populações civis” (citando o caso específico de Israel).

O filósofo então propõe uma ação política de humanidade e de civilidade em escala planetária, a qual chamou de “antropolítica”.

De imediato, começando por descontruir a ilusão comportada no termo “desenvolvimento”, que ele chama de “mito típico do sociocentrismo ocidental”, locomotiva e instrumento de colonização. Mesmo aqueles decorados com seus adjetivismos: “desenvolvimento durável”; que disfarça e adia a necessidade de mudanças fundamentais, estas, subjugadas pela ilusão na esperança que o termo incita; “sustentável” que disfarça os fins demolitícos que impõe por força com os temperos do contexto ecológico; ou “humano” que apresenta uma humanidade competitiva, individualista, vazia de conteúdo.

O desenvolvimento ocidental ignora as qualidades de “vida, o sofrimento, a alegria, o amor”. Só considera aquilo que é mensurável pelos indicadores de crescimento de renda monetária.

“O desenvolvimento ignora que o crescimento tecnoeconômico também produz subdesenvolvimento moral e físico: a hiperespecialização generalizada, as compartimentalizações em todos os campos, o hiperindividualismo, o espírito de lucro acarretando a perda das solidadiedade”.


O filósofo propõe ações humanitárias mundializadas, a exemplo de serviço cívico planetário ao invés de serviço militar em favor daqueles despossuídos, impotentes diante do desprezo, da ignorância, dos golpes de sorte.

Suscita, ainda, uma integração dos aportes fundamentais do Oriente e Ocidente, não só para salvaguardar e controlar os bens naturais do planeta, mas também em prol de uma melhor qualidade de vida para todos os habitantes da nave mãe. Sugere a troca dos motores obsoletos que impulsam o planeta (ciência-técnica-industria-capitalismo/lucro), que devem ser substituídos pelos consórcios, associações, cooperativas, trocas de serviços.

Para tanto uma governança se torna necessária e Morin acredita na possibilidade de um civismo planetário, amplificado das nações unidas, envolvendo, democraticamente, as pátrias. Reconhece que a própria humanidade é um obstáculo, sobretudo por conta da imaturidade dos Estados-nações, dos espíritos, das consciências que resistem imbuídas no contexto ideológico, nacionalista, étnico ou religioso de suas particularidades.

Aqui, tanto os individualismos das sociedades ocidentais quanto os comunitarismos de toda parte, favorecem o mal da incompreensão humana. Mas também alerta para o perigo que existe na possibilidade de que esta sociedade-mundo venha assumir uma forma de império-mundo nesse longo caminho possível para uma cidadania planetária.

Diante das duas vias que nos apresentam para a reforma da humanidade - a “via interior”, da alma, das compaixões que jamais livraram os homens dos mais bárbaros acontecimentos e a “via exterior”, das instituições que continuamente se reformam sem perder suas características de dominação exploradora; ou ainda, diante do progresso tecnocientifico emancipador ilimitado para o bem, assim como para a destruição e todo mal - exortar os espíritos para a grande reforma da compreensão humana se torna o caminho necessário. 

Precisamos renovar nossas atuações no dia a dia, vivê-la com sabedoria, com mais prazer, com mais solidariedade. Para começar, uma reforma radical no sistema de ensino é fundamental exigindo uma metamorfese totalmente inconcebível, mas não impossível. Há um princípio de esperança, de sucessão do improvável em todo o ser humano, trata-se, agora, de como saber estimulá-los neste momento preciso que se torna tão crucial e nobre, humanizar-se.

Bibliografia:
MORAES, Denis (org.) Por uma outra comunicação. Mídia, mundialização cultural e poder. 3 ed. Editora Record, RJ/SP 2005.

Sobre Edgar Morin:

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