Para
Kant, todo o nosso conhecimento começa com a experiência. Ele é despertado
pelos objetos que pressionam os nossos sentidos, produzindo suas próprias representações
em cada um de nós. Sugere então a possibilidade de que o nosso conhecimento da
experiência esteja um pouco misturado, composto daquele múltiplo recebido pela
pressão dos objetos sobre os nossos sentidos e um pouco do nosso próprio poder
de conhecimento, derivados não imediatamente da experiência, mas de uma regra
geral, como uma função que condiciona universalmente qualquer conhecimento
sensível ou intelectual. Se há tal conhecimento absolutamente independente de
toda a experiência que existe, ele se denomina a priori, que são distintos dos conhecimentos empíricos, resultantes
das impressões dos sentidos, estes, a
posteriori, cuja origem se encontra na experiência. A experiência nos
ensina que algo constituído deste ou daquele modo pode ser diferente em nova
situação, qualquer resultado não implica contradição. Logo, a experiência não é
capaz de produzir juízos verdadeiros com rigorosa universalidade, mas somente proposições
(e aqui destacamos uma pausa para a linguagem, o múltiplo das entidades linguísticas,
dos termos), relevadas de arbitrária validez. Contudo, podemos supor e
comparar, por indução, também a partir de princípios, em eventos que até o
momento não apresentaram nenhuma exceção às regras estabelecidas, juízos
pensados com rigorosa universalidade e necessidade, características de um
conhecimento puro a priori. Para
estes, Kant cita os exemplos das proposições matemáticas e a afirmação exemplar
“que toda mudança deva ter uma causa”
[juízos sintéticos a priori]. Nela constatamos uma universalidade da regra e
uma necessária conexão com o efeito.
Segundo
Kant, nos juízos em que há uma relação entre sujeito e predicado, esta relação
acontece de dois modos: juízo analítico [parte dos primeiros
princípios, não agrega conhecimento: p->q], há nele uma relação de
identidade, o predicado está contido no sujeito e a este não se acrescenta
conhecimento; e juízo sintético [dirige-se para os primeiros
princípios, agrega conhecimento: pΛq], não há nele uma relação de identidade, o
predicado não está contido no sujeito e a ele acrescenta conhecimento. 1. O primeiro se ocupa, em
grande parte, do desmembramento de conceitos que já possuímos a respeito dos
objetos, ou seja, na maior parte do tempo estamos esclarecendo ou explicando o
que já foi pensado, de forma que aqueles conceitos que possuímos não se ampliam,
apenas são analisados, desmembrados em conceitos parciais. Kant utiliza o
exemplo “todos os corpos são extensos”. Nele encontramos uma estreita conexão
entre extensão e conceito [entidades mentais] ligado à palavra corpo, múltiplo
de conteúdos, onde já se encontra a própria noção do predicado. 2. Ao segundo, o predicado
agrega conhecimento ao termo sujeito, algo que não era pensado nele, que dele
não pode ser extraído, desmembrado. Exemplifica “todos os corpos são pesados”.
O termo predicado é diverso do conceito do termo sujeito em geral, há um
acréscimo de conhecimento e, neste caso, o juízo é sintético [entidades
linguísticas]. Os juízos fundados na experiência, a posteriori, são todos sintéticos, contingentes. Ao contrário, os
juízos analíticos inferem proposições certas a priori, necessárias, que não fazem uso da experiência, pois já
estão contidas no conceito do termo sujeito as condições para o seu juízo. Seus
conceitos parciais, seus predicados, podem ser desmembrados segundo o princípio
da contradição. Mas Kant também relaciona juízo sintético com o conceito de a priori, o que a princípio parece
confuso. Como um juízo sintético, fundado a partir da experiência, intuído de
forma empírica, participa de um conceito a
priori, analítico, dado ao desmembramento de conceitos e que dispensa toda
a experiência? Segundo ele, algo acontece na intuição pura, um terceiro
elemento que se apresenta entre o conceito e a síntese, onde ocorre a
representação do múltiplo da intuição empírica, mediada pelo pensamento. No
princípio sintético puro o múltiplo não é dado empiricamente, mas a priori como as formas puras da
sensibilidade [tempo e espaço], onde a intuição se faz imediata, nele repousa
todo conhecimento especulativo a priori, necessários para a clareza dos
conceitos e para uma síntese segura e vasta, assim como para uma nova aquisição
de conhecimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Por gentileza, identifique-se para comentar.