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sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Ética a Nicômaco - Introdução



Ética nicomaqueia, o mais "belo" tratado da conduta humana

Três tratados nos legou Aristóteles: Magna Moralia, Ethica Eudemia e Ethica Nicomachea. O último, uma reunião dos três. A ética em foco, questões sobre a responsabilidade moral e a liberdade de ação. Destaques para a felicidade, o bem supremo; as virtudes e a amizade: os principais fundamentos da conduta humana.

Para melhor compreensão da leitura da Ethica Nicomachea, dividiremos o texto em quatro partes:

Um  Tratado sobre a Felicidade (Livro I, cap.: 1-12).

Inicia com o estabelecimento da noção de felicidade, o propósito da conduta humana, mediado pelas virtudes (morais e intelectuais).

Diz ele: "A felicidade é definida como certa atividade da alma segundo perfeita virtude" (ARISTÓTELES, Liv I, 6 - 1098a16-17. Trad.: Zingano, 2008, 12).

"O bem do homem nos aparece como uma atividade da alma em consonância com a virtude, e, se há mais de uma virtude, com a melhor e mais completa(A, Liv I, 7 - 1098a16-17. trad.: Vincenzo Cocco, 1979, 56).

Dois – Tratado sobre a Virtude Moral (Livro I, cap.: 13; e Livro III, cap.: 8).

Ser virtuoso é meio caminho para a felicidade.

Para se chegar ao conceito de virtude perfeita (a melhor e mais completa), Aristóteles passa a examinar, com destaque, a natureza de três elementos que compõem sua unidade: a virtude moral; a escolha deliberada (II 6) e o ato voluntário (III 1-6).

Em nova subdivisão, separa o conjunto das Virtudes Morais em dois: a parte não racional (das virtudes naturais), e a parte racional da alma (das virtudes próprias); e as denomina respectivamente de virtude moral e virtude intelectual.


- A virtude moral ou boa medida de nossas emoções é concebida entre o prazer e a dor (virtudes morais); mas é também resultado de nossa disposição de escolher por deliberação, segundo a razão (virtudes intelectuais). Seu perfeito equilíbrio consiste em estabelecer uma mediedade relativa entre esses dois pontos; e cabe a nós a escolha priorizando a reta razão (segundo Aristóteles) num jogo entre esses dois contrários: Emoção X Razão.

- Escolha deliberada  (II 6): "é a determinação que a razão impõe no domínio prático” (ZINGANO, 2008, 12).

- Ato voluntário ou ato involuntário (III 1-6). Nova discussão que envolve a força de uma ação original, explosiva, irracional; e a força da razão deliberativa, imperativo racional, que se estende sobre a natureza voluntária ou involuntária dos atos humanos: o exame da ignorância das circunstâncias; o fato do agente arrepender-se ou não. Se se arrepende, o ato é involuntário; se não se arrepende, embora o ato não seja voluntário, o ato não é propriamente involuntário, mas não-voluntário.

- Ato voluntário: o princípio está no agente + o agente conhece as circunstâncias nas quais a ação ocorre.

Toda escolha deliberada é voluntária, mas nem todo ato voluntário (certa intuição) ocorre por escolha deliberada. É como ocorre com as crianças e os animais que possuem razão deliberativa apenas de forma parcial, incipiente.

A Questão do Tempo: um contínuo divisível entre Motivação e Ação

Aristóteles propõe um tempo contínuo divisível entre a motivação (o belo), e a ação (agir bem): agir com vistas ao belo (τὀ καλόν). Importante o destaque que o professor Zingano atribui a respeito do 'bem" (platônico) e do "belo" (aristotélico) com suas especificidades de época. O Estagirita introduz a noção antiga de belo, τὀ καλόν; e do agir com vistas ao belo, τοὺ καλοὺ ἕνεκα. Já a noção antiga de bem, (bom), τὀ ἀγαθόν, está conectada ao que é benéfico e vantajoso para o sujeito. 

O filósofo estabelece uma noção moral do bem desvinculada do que é proveitoso ou benéfico para o agente: “O bem que procuramos é o bem em escala humana” (...) “por felicidade entende o agir bem; é feliz quem age bem”; às vezes “agir bem implica buscar o que é moralmente belo à custa do que nos é vantajoso ou benéfico”. A noção de belo guarda a “dimensão altruísta do ato moral”. (ZINGANO, 2008, 21).

Três – Tratado sobre a Prudência (Livro VI).

Estudo da natureza da prudência, que é justamente a boa deliberação a título de virtude intelectual do domínio prático (agir reto, ação perfeita).

Nesse capítulo, Aristóteles divide a virtude moral em duas: virtude natural, intuitiva, original, temos ao nascer ou adquirimos por hábito, aquela que nos fornece o princípio correto da ação (das partes do irracional); e virtude própria (das partes racionais), subjetiva, relativa a certo uso da razão, das experiências, adquirida com prudência, “envolve sabedoria prática” (1144b1-17).

Quatro – Tratado sobre os Modos de Vida (Livro X, cap.: 6-9).

Vida contemplativa e vida política. Estes, frutos do caráter virtuoso consolidado, veremos por último.



Mas não termina aqui. Para que possamos fortalecer os alicerces desse núcleo argumentativo que dividimos em quatro subtemas (felicidadevirtude moralvirtude intelectual e modos de vida), acataremos a sugestão que faz o prof. Zingano e analisaremos também os seguintes suplementos encontrados no interior do texto aristotélico:

Livro III, 9; e Liv V: as virtudes particulares (caso a caso);
Liv VII, 1 – 11: o fracasso moral (acrasia, intemperança);
Liv VIII; e Liv IX: a amizade;
Liv VII, 12 – 15: o prazer como atividade sem entraves;
Liv X, 1 - 5: o prazer como coroamento, um plus da atividade.
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Referência
- ZINGANO, Marco. Aristóteles : tratado da virtude moral ; Ethica Nicomachea I 13 - III 8, Obras comentadas. -- São Paulo : Odysseus Editora, 2008.
ARISTÓTELES (348-322 a.C). Metafísica : livro 1 e livro 2 ; Ética a Nicômaco ; Poética ; seleção de textos de José Américo Motta Pesanha ; trad. Vincenzo Cocco; -- São Paulo : Abril Cultural, 1979. (Os pensadores).

Continua: ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco - Livro I, cap. 1-5
Texto completo: Ética a Nicômaco
HOME: http://ofilosofoqueri.blogspot.com.br/

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