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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Ética a Nicômaco. Liv I, cap 1 - 5: Felicidade


Cap. 1 - a Felicidade

Causa Final: O Sumo Bem: a Felicidade: Aristóteles define o objeto de sua investigação: o Bem Supremo, a felicidade, “aquilo a que todas as coisas tendem.” (1094a) [1]

Meios e Fins: deliberamos sobre os meios para alcançar os fins, nunca sobre os fins. Escolhemos os meios, caminhos que conduzem aos fins, confrontando razões rivais. O último meio da análise determina a primeira ação e assim por diante. Trabalhamos com fins parciais, fins menores subordinados a um fim maior, um fim que lhe é superior (fim fundamental). E assim por diante até alcançarmos o fim último, a felicidade, o sumo bem.

Cap. 2 – O Sumo Bem: atividade fim

Para todas as coisas que fazemos existe um fim. Desejamos no interesse desse fim, desejamos o Bem.

O fim último, o Sumo Bem (ou a felicidade) é o resultado do modo ordenado com o qual conduzimos todos os fins. (Livro X).

A finalidade política: alcançar o bem humano. Tal condução exige um alvo determinado pela política (o bem e o sumo bem). A política “legisla sobre o que devemos e não devemos fazer, a finalidade dessa ciência deve abranger as das outras, de modo que essa finalidade será o bem humano”. (1094b5)  

Política (a arte mestra): arte ou ciência da organização para alcançar o bem humano. Legisla sobre a doutrina do direito e da moral dos indivíduos pertencentes a polis ou a comunidade.

O indivíduo político, como que regido por um conselho de virtudes, se lança para a felicidade multiplicando os bens entre seus pares alcançando, finalmente, o bem para o estado. Ainda que seja bom “para um indivíduo só, é mais belo e mais divino alcança-lo para uma nação ou para as cidades estados”. (1094b10)  


Cap. 3 – Sobre a Ciência Política

“As ações belas e justas, que a ciência política investiga, admitem grande variedade e flutuações de opinião.” (1094b15)

Política (por convenção): os acordos são fundamentais nos arranjos políticos. Segundo Aristóteles, há uma enorme flutuação em torno do entendimento do “Bem” e, consequentemente, dos bens que devemos alcançar. Sugere então ordenarmos o discurso já que buscamos a precisão para falar de coisas que parecem apenas “indicar a verdade aproximadamente e em linhas gerais”. E isso só acontece por convenção, quando há um acordo mútuo sobre a natureza do assunto.

O método investigativo: compreendendo a importância da influência que cada indivíduo político acrescenta na busca da verdade, sugere, então, que seja traçado um método de ação investigativo predisposto a buscar, com precisão, o bem pleno de sentido.

Discurso Político X Ação Política: Ainda que não seja possível exigir provas científicas de um retórico, alerta sobre a necessidade de que o conjunto argumentativo esteja de acordo com um principio racional, seguindo determinada coerência lógica, ou seja: que as premissas e conclusões que compõem a natureza do assunto estejam ordenadas. O domínio da retórica torna-se essencial no diálogo político, mas o fim que se tem em vista é a ação e o modo de viver é seguindo “um após o outro cada objetivo que lhe depara a paixão”. (1095a10)

Cap. 4 – Teoria do Conhecimento

“Todo conhecimento e todo trabalho visa a algum bem”. (1095a16)

O fim, a felicidade = bem viver e bem agir. É também esse o objetivo da ciência política: alcançar o bem, o belo, pela ação política. E o vulgo não concebe o bem do mesmo modo que o sábio. Para os primeiros, riquezas, honrarias e prazeres bastam; enquanto para os sábios, existe outro bem, a felicidade, “que é auto subsistente e também é causa da bondade de todos os demais” (1095a28)

Importância do conhecimento: Como são muitas as opiniões que qualificam o bem, Aristóteles aconselha seguir o caminho do conhecimento, uma via semelhante a já apontada por Platão, em TeetetoNo texto platônico, Sócrates alude a certa distinção entre conhecimento (ter, saber, conceber, tocar uma parte do todo) e sabedoria (possuir, conhecer "a conexão, o caminho"), enquanto descreve a dupla caçada de um caçador de "pássaros selvagens", que muito se assemelha a um caçador de conhecimento: "por have-los apanhado e posto num aviário de sua propriedade, de onde os pode retirar e ter quando quiser, agarrando e soltando de novo o que bem lhe parecer".  Na infância, a “gaiola está vazia, e em vez de pássaros imaginemos conhecimentos [muitos pássaros voando]. Sempre que alguém adquire conhecimento [um pássaro 'na mão', específico] e o fecha em tal recinto, diz que ele aprendeu ou encontrou a coisa de que isso é o conhecimento, e que nisso consiste, precisamente, o saber.” E arremata: "o aritmético perfeito não conhece todos os números? Pois ele tem na alma o conhecimento de todos eles"[2]

Segundo Aristóteles, Platão costumava a perguntar: “Nosso caminho parte dos primeiros princípios ou se dirige para eles?” (1095a33). Compara esse caminho ao dos corredores num estádio que avançam a reta até um determinado ponto onde se encontra o juíz (a autoridade), e então, pegam o caminho de volta. Assim, por analogia, explica que alguns argumentos partem dos primeiros princípios, buscam adquirir (ter) conhecimento; outros, aqueles argumentos já adquiridos e fundamentados (ajuizados), se voltam para os princípios e, a partir de então, será possível apreende-los em nova caminhada.

O fato é o ponto de partida (1095b5). Lembra então que “embora devamos começar pelo que é conhecido, os objetos do conhecimento são em dois sentidos diferentes: alguns para nós [relativos], outros na acepção absoluta da palavra [absolutos]” (1095b). Conclui então que uma boa educação facilita o ponto de partida, aproxima o sujeito da verdade.

“O fato é a coisa primária ou primeiro princípio” (1098b)

“O começo é mais que a metade do todo” (1098b5)

Cap. 5 – Três estilos de vida

Existem três diferentes modos de viver a vida: 1. Forma vulgar, para aqueles que identificam o bem ou a felicidade com uma vida de prazeres (emoção); 2. Forma política, para os que identificam o bem com honras e virtudes; e 3. Forma contemplativa, plena de atividades virtuosas, conforme a razão, “já que a razão, mas que qualquer outra coisa, é o homem”. (1178a5)

Autoridade do conhecimento: quanto a forma política, aqueles que buscam a honra para convencerem-se de que são bons, buscam-na: 1. Entre os indivíduos de grande sabedoria prática; 2. Entre aqueles que conhecem; 3. E mais ainda: em razão da virtude.



[1] ARISTÓTELES (348-322 a.C). Metafísica : livro 1 e livro 2 ; Ética a Nicômaco ; Poética ; seleção de textos de José Américo Motta Pesanha ; trad. Vincenzo Cocco; -- São Paulo : Abril Cultural, 1979. (Os pensadores).
[2] PLATÃO. Teeteto, Versão eletrônica do diálogo platônico; Trad. Carlos Alberto Nunes; digitalização Membros do grupo de discussão Acrópolis (Filosofia): http://br.egroups.com/group/acropolis/, pg 60.

Continua: ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco. Livro I, cap 6-7
Introdução: ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco: Introdução
Texto Completo: ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco.
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