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terça-feira, 1 de setembro de 2015

Ética a Nicômaco. Liv I, cap 6 - 7: O Bem

Cap. 6 – O Bem
(Platão X Aristóteles)

O conceito de Bem: neste importante capítulo, Aristóteles procura diferenciar o “Bem”, útil, prático, atingível pelo homem; do “Bem” universal, conceito platônico da Teoria das Ideias (Teoria das Formas). Quatro diferentes argumentos imbricados em si mesmos são utilizados:

1. Argumento da Ordem Natural da Physis: o primeiro argumento contempla a ordem natural da physis - substância/anterior X categoria/posterior - o movimento constante: “a substância é anterior por natureza ao relativo (o relativo, de fato, é como uma derivação, um acidente do ser); de modo que não pode haver uma Ideia comum por cima de todos os bens.” (1096a20)[1].

A ordem natural se apresenta de forma que a substância é sempre anterior ao relativo. Ou seja, as coisas reais se encontram em contínua alteração, pois estão em movimento, melhor dizendo, em duplo movimento: se alteram (envelhecem, por exemplo), e/ou mudam de lugar.

2. Argumento das Categorias (o Ser e os acidentes do Ser): daí a palavra “Bem” ter muitos sentidos e poder ser usada de várias formas alegando as diferentes categorias que lhes cabem o termo relativo: as de substância, anterior, “Deus e razão”, e suas variações: qualidade (exemplo usado para qualificar as virtudes); quantidade (da moderação dos conteúdos); relação (comparando o útil); tempo (da oportunidade); lugar (do apropriado); etc.

10 Categorias: O termo “Categoria” corresponde à realidade, as variações da substância, portanto, necessário ao discurso lógico (V-F), qualitativo. Aristóteles parte do ponto de vista linguístico: as categorias são os modos como o ser se predica das coisas nas proposições, portanto, os predicados fundamentais das coisas. O filósofo enumera dez categorias: Substância, Quantidade, Qualidade, Relação, Lugar, Tempo, Posição, Posse, Ação e Passividade.

“A predicação afirma às vezes o que a coisa é, às vezes a sua qualidade, às vezes a sua quantidade, às vezes a sua relação, às vezes aquilo que faz ou que sofre e às vezes o lugar onde está ou o tempo, segue-se que tudo isso são os modos do ser” (Met, V, 7, 1017a 23)[2]

Aristóteles reafirma então a impossibilidade de haver uma ideia comum “e universalmente presente, pois se assim fosse não poderia ser predicado em todas as categorias, mais somente uma.” (1096a25).

3. Argumento das muitas ciências: “as ciências são muitas, mesmo das coisas que se incluem numa só categoria” (1096a30). Segundo Aristóteles, as ciências da estratégia ou da saúde se utilizam da categoria Tempo; assim como as ciências da ginástica ou da saúde se utilizam da categoria Quantidade. Logo, não haveria uma única ciência de todos os bens que correspondesse a uma única Ideia. As ciências são relativas a fatos variados e numerosos, referem-se a qualquer conhecimento específico ou práticas sistemáticas.

4. Argumento do Individual: Aristóteles não difere o “homem em si” (universal), do “homem particular” (individual). Os platônicos “não falam de todos os bens” (1096b10). E assim também não difere o “bem em si” (a ideia de bem, eterno), do bem particular (aquele que perece no espaço de um dia).

Platão parece apontar três sentidos:
a. A forma única (eterna).
Para Aristóteles, são muitas as coisas boas em si mesmas com conceitos diversos para “Bem”. Isso implica que “o conceito de bom teria que ser idêntico em todas elas”. Logo, a forma única é vazia de sentido (1096b25);

b. Bens em si mesmo; bons em relação à Forma Única (aquilo que dura muito tempo).
Para Aristóteles, Coisas Boas: bens amados buscados por si mesmo, por exemplo: certas virtudes (a inteligência, a visão, certos prazeres e honras);

c. Bens em relação ao segundo, representados pelo homem (aquilo que perece no tempo).
Para Aristóteles, Coisas Úteis: coisas práticas, atingíveis pelo homem.

Platão apontando para o céu, Aristóteles indicando a terra.

Céu X Terra: Aristóteles descarta a Forma Única, ideal (a.) e adere à forma prática, terrena (b. e c.). A primeira opção pertence ao mundo das ideias, capaz de existência separada, independente dos homens. De acordo com Aristóteles, inatingível. A segunda opção tem os pés na terra, implica o uso da razão, capacidade essencialmente humana. “O que buscamos aqui é algo de atingível” (1096b34).

Cap. 7 – O Bem: a causa final

O Bem é diferente em todas as artes. Na medicina o bem é a saúde; na estratégia, a vitória; na arquitetura, a casa; e assim por diante. O Bem é a finalidade de todos os propósitos e ações:

“(...) tendo-o em vista que os homens realizam o resto” (...) “se existe uma finalidade para tudo que fazemos, essa será o bem realizável mediante a ação” (1097a22).

O Sumo Bem: existem muitos fins alcançados com vistas em outras coisas (a riqueza, por exemplo). Nem todos os fins são absolutos. Um fim absoluto é aquele desejado por si mesmo, nunca no interesse de outra coisa. O Sumo Bem é algo de absoluto.

“Se só existe um fim absoluto, será o que estamos procurando; e, se existe mais de um, o mais absoluto de todos será o que buscamos” (1097a27).

O Sumo Bem = a Felicidade: todos os fins alcançados visam um fim absoluto (auto suficiente): a Felicidade, o bem mais desejável de todos.

“A felicidade é algo absoluto e auto suficiente, sendo também a finalidade da ação” (1097b20).

A função do Homem: o bem e o bem feito(097b25). No sentido ético: agir (ação, atividade) visando o bem comum. O sumo bem, o fim absoluto é auto suficiente (carente de nada), ou seja: bom para o indivíduo, sua família, seus concidadãos, “visto que o homem nasceu para a cidadania” (1097b12).

O princípio racional: Um princípio ativo que exerce o pensamento no sentido de promover atividades que sejam boas. O princípio ativo racional difere os homens das plantas e dos animais. Estes, limitados a uma vida vegetativa e sensitiva (nutrição, crescimento e percepção). Enquanto que para o homem, e aqui destacamos o homem bom, a ação realizada visa estar de acordo com a excelência (virtude) que lhe é própria.

Virtude: qualquer ação realizada com a excelência que lhe é própria.

“O bem do homem nos aparece como uma atividade da alma em consonância com a virtude, e, se há mais de uma virtude, com a melhor e mais completa” (1098a15).



[1] ARISTÓTELES (348-322 a.C). Metafísica : livro 1 e livro 2 ; Ética a Nicômaco ; Poética ; seleção de textos de José Américo Motta Pesanha ; trad. Vincenzo Cocco; -- São Paulo : Abril Cultural, 1979. (Os pensadores).
[2] ARISTÓTELES (348-322 a.C). Metafísica : Trad. Leonel Vallandro ; Intr. David Ross; --Porto Alegre: Ed. Globo, 1969.
[3] HERÓDOTO (638-558 a.C.). História ; trad. Brito Broca; prefácio de Vítor Azevedo. –São Paulo : Ed. W. M. Jackson, 1964.


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