Cap. 6 – O Bem
(Platão X Aristóteles)
O conceito de Bem: neste importante capítulo, Aristóteles procura diferenciar o “Bem”,
útil, prático, atingível pelo homem; do “Bem” universal, conceito platônico da
Teoria das Ideias (Teoria das Formas). Quatro diferentes argumentos imbricados
em si mesmos são utilizados:
1. Argumento da Ordem
Natural da Physis: o primeiro argumento contempla a ordem natural da physis - substância/anterior X categoria/posterior - o movimento constante: “a substância é anterior por
natureza ao relativo (o relativo, de fato, é como uma derivação, um acidente do
ser); de modo que não pode haver uma Ideia comum por cima de todos os bens.” (1096a20)[1].
A ordem natural se apresenta de forma que a substância é sempre anterior
ao relativo. Ou seja, as coisas reais se encontram em contínua alteração, pois
estão em movimento, melhor dizendo, em duplo movimento: se alteram (envelhecem, por exemplo), e/ou mudam de lugar.
2. Argumento das Categorias (o Ser e os acidentes do Ser): daí a palavra “Bem” ter muitos sentidos e poder ser usada de várias
formas alegando as diferentes categorias que lhes cabem o termo relativo: as de
substância, anterior, “Deus e razão”, e suas variações: qualidade (exemplo
usado para qualificar as virtudes); quantidade (da moderação dos conteúdos);
relação (comparando o útil); tempo (da oportunidade); lugar (do apropriado);
etc.
10 Categorias: O termo “Categoria” corresponde à realidade, as
variações da substância, portanto, necessário ao discurso lógico (V-F), qualitativo.
Aristóteles parte do ponto de vista linguístico: as categorias são os modos
como o ser se predica das coisas nas proposições, portanto, os predicados
fundamentais das coisas. O filósofo enumera dez categorias: Substância,
Quantidade, Qualidade, Relação, Lugar, Tempo, Posição, Posse, Ação e
Passividade.
“A predicação afirma às vezes o que a coisa é, às vezes a sua qualidade,
às vezes a sua quantidade, às vezes a sua relação, às vezes aquilo que faz ou
que sofre e às vezes o lugar onde está ou o tempo, segue-se que tudo isso são
os modos do ser” (Met, V, 7, 1017a 23)[2]
Aristóteles reafirma então a impossibilidade de haver uma ideia comum “e
universalmente presente, pois se assim fosse não poderia ser predicado em todas
as categorias, mais somente uma.” (1096a25).
3. Argumento das muitas ciências: “as ciências são muitas, mesmo das coisas que se
incluem numa só categoria” (1096a30). Segundo Aristóteles, as ciências da estratégia ou da saúde se utilizam
da categoria Tempo; assim como as ciências da ginástica ou da saúde se
utilizam da categoria Quantidade. Logo, não haveria uma única ciência de
todos os bens que correspondesse a uma única Ideia. As ciências são relativas a
fatos variados e numerosos, referem-se a qualquer conhecimento específico ou
práticas sistemáticas.
4. Argumento do
Individual: Aristóteles não difere o “homem em si” (universal), do “homem
particular” (individual). Os platônicos “não falam de todos os bens” (1096b10). E assim também não difere o “bem em si” (a ideia de
bem, eterno), do bem particular (aquele que perece no espaço de um dia).
Platão parece apontar três
sentidos:
a. A forma única (eterna).
Para Aristóteles, são muitas as coisas boas em si mesmas com conceitos
diversos para “Bem”. Isso implica que “o conceito de bom teria que ser idêntico
em todas elas”. Logo, a forma única é vazia de sentido (1096b25);
b. Bens em si mesmo; bons em relação à Forma Única
(aquilo que dura muito tempo).
Para Aristóteles, Coisas Boas: bens amados buscados por si mesmo,
por exemplo: certas virtudes (a inteligência, a visão, certos prazeres e
honras);
c. Bens em relação ao segundo, representados pelo
homem (aquilo que perece no tempo).
Para Aristóteles, Coisas Úteis: coisas práticas, atingíveis pelo
homem.
Platão apontando para o céu, Aristóteles indicando a terra.
Céu X Terra: Aristóteles descarta a Forma Única, ideal (a.) e adere à forma prática, terrena (b. e c.). A primeira opção pertence ao
mundo das ideias, capaz de existência separada, independente dos homens. De
acordo com Aristóteles, inatingível. A segunda opção tem os pés na terra,
implica o uso da razão, capacidade essencialmente humana. “O que buscamos aqui
é algo de atingível” (1096b34).
Cap. 7 – O Bem: a causa final
O Bem é diferente em todas as artes. Na medicina o bem é a
saúde; na estratégia, a vitória; na arquitetura, a casa; e assim por diante. O
Bem é a finalidade de todos os propósitos e ações:
“(...) tendo-o em vista que os homens realizam o resto” (...) “se existe
uma finalidade para tudo que fazemos, essa será o bem realizável mediante a
ação” (1097a22).
O Sumo Bem: existem muitos fins alcançados com vistas em outras
coisas (a riqueza, por exemplo). Nem todos os fins são absolutos. Um fim
absoluto é aquele desejado por si mesmo, nunca no interesse de outra coisa. O
Sumo Bem é algo de absoluto.
“Se só existe um fim absoluto, será o que estamos procurando; e, se
existe mais de um, o mais absoluto de todos será o que buscamos” (1097a27).
O Sumo Bem = a Felicidade: todos
os fins alcançados visam um fim absoluto (auto suficiente): a
Felicidade, o bem mais desejável de todos.
“A felicidade é algo absoluto e auto suficiente, sendo também a
finalidade da ação” (1097b20).
A função do Homem: “o bem
e o bem feito” (097b25). No sentido
ético: agir (ação, atividade) visando o bem comum. O sumo bem, o fim
absoluto é auto suficiente (carente de nada), ou seja: bom para o indivíduo,
sua família, seus concidadãos, “visto que o homem nasceu para a cidadania” (1097b12).
O princípio racional: Um princípio ativo que exerce o pensamento no
sentido de promover atividades que sejam boas. O princípio ativo racional
difere os homens das plantas e dos animais. Estes, limitados a uma vida
vegetativa e sensitiva (nutrição, crescimento e percepção). Enquanto que para o
homem, e aqui destacamos o homem bom, a ação realizada visa estar de acordo com
a excelência (virtude) que lhe é própria.
Virtude: qualquer ação realizada com a excelência que lhe é
própria.
“O bem do homem nos aparece como uma atividade da alma em consonância
com a virtude, e, se há mais de uma virtude, com a melhor e mais completa” (1098a15).
[1] ARISTÓTELES (348-322 a.C). Metafísica : livro 1 e
livro 2 ; Ética a Nicômaco ; Poética ; seleção de textos de José Américo Motta
Pesanha ; trad. Vincenzo Cocco; -- São Paulo : Abril Cultural, 1979. (Os
pensadores).
[2] ARISTÓTELES (348-322 a.C). Metafísica : Trad. Leonel
Vallandro ; Intr. David Ross; --Porto Alegre: Ed. Globo, 1969.
[3] HERÓDOTO (638-558 a.C.). História ; trad.
Brito Broca; prefácio de Vítor Azevedo. –São Paulo : Ed. W. M. Jackson, 1964.
Continua: ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco. Livro I, cap 8-13
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