A Ação: segundo Aristóteles, “devemos tornar-nos justos praticando atos justos, e temperantes praticando atos temperantes” (1105a18)[2]. Mas é preciso determinada condição ao praticá-los:
1. Conhecimento: “deve ter conhecimento do que faz”;
2. Escolha certa: “deve escolher os atos, e escolhê-los por eles
mesmos”;
3. Firmeza: “sua ação deve proceder de um caráter firme e imutável”
(1105a30).
Sendo as duas últimas
condições, Escolha certa e Firmeza, resultado da prática repetida e esmiuçada,
mais importante que o Conhecimento. Ou seja, “é acertado dizer que pela prática
de atos justos se gera o homem justo, e pela prática de atos temperantes, o
homem temperante” (1105b7), e não basta conhecer, deve agir.
Cap.
V – As disposições envolvem escolhas
Na alma, encontramos “três
espécies de coisas: paixões, faculdades e disposições de caráter; a virtude
deve pertencer a uma destas” (1105b20).
1. Paixões: do natural, do desiderativo, do apetitivo, acompanhados
de prazer e dor; do universal.
2. Faculdades: da percepção relativa, da simples capacidade de
sentir as paixões; do singular.
3. Disposição de caráter: ação na escolha
entre um de dois contrários. É a posição que tomamos com referência às paixões:
“má se a sentimos de modo violento ou demasiado fraco; e boa se a sentimos
moderadamente” (1105b25).
Portanto, as virtudes
não sendo paixões nem faculdades, “só resta uma alternativa: a de que sejam
disposições de caráter” (1106a10).
Cap.
VI – Virtude, uma disposição de caráter e escolhas
Virtude: qualquer ação bem realizada
com a excelência que lhe é própria. Diz respeito às paixões e ações, as quais
existem excessos, carência e meio termo. Segundo Aristóteles, “disposição de
caráter que torna o homem bom e o faz desempenhar bem a sua função” (1106a24).
Excelência: “Toda
virtude ou excelência não só coloca em boa condição a coisa de que é a
excelência como também faz com que a função dessa coisa seja bem desempenhada” (1106a16).
Por exemplo, é
graças
a excelência
do olho que vemos bem.
O meio termo e o igual: “Em
tudo que é continuo e divisível
pode-se tomar mais, menos ou uma quantidade igual, e isso quer em
termos da própria coisa, quer relativamente a nós; e o igual é
o meio termo entre o excesso e a falta” (1106a26).
Extremo absoluto: o meio termo da própria
coisa (a substância):
o equidistante entre dois extremos; do absoluto, “é
um só
e o mesmo para todos os homens” (1106a30).
Extremo relativo: o meio termo relativamente a nós (o sujeito): nem muito, nem pouco, “este
não
é
um só
e o mesmo para todos os homens”.
Quididade (essência necessária 'substancial' ou substância): aquilo que, sem tirar nem por permanece igual,
preserva a sua excelência. É
parte da natureza específica da virtude buscar (no extremo
absoluto) e escolher (no extremo relativo), “o
meio termo não só
no objeto, mas [também] relativamente a nós”
(1106b5).
O meio termo e a excelência: é
atributo da virtude visar o meio termo. Prazer e dor devem ser sentidos “na
ocasião
apropriada, com referência aos objetos apropriados, para com
as pessoas apropriadas, pelo motivo e da maneira conveniente, nisso consistem o
meio termo e a excelência característicos
da virtude” (1106b20).
Segundo os pitagóricos: “o mal pertence à classe do ilimitado
e o bem à do limitado”. Para Aristóteles, só há um modo de acertar: “fácil
errar a mira, difícil atingir o alvo. Pelas mesmas razões o excesso e a
falta são características do vício, e a mediania da virtude” (1106b30).
Mediania e Extremo: “A
virtude é,
pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consiste
numa mediania, isto é, a mediana relativa a nós,
a qual é
determinada por um princípio racional próprio
do homem dotado de sabedoria prática. E é
um meio termo entre dois vícios, um por excesso e outro por falta”
(1107a); mas
“com
referência
ao sumo bem e ao mais justo, é,
porém,
um extremo” (1107a8).
Conclusão: A virtude moral ou boa
medida de nossas emoções é
concebida entre o prazer e a
dor (virtudes morais II); mas é também resultado de nossa disposição
de escolher por deliberação,
segundo a razão (virtudes intelectuais). Seu perfeito equilíbrio consiste em
estabelecer uma mediedade relativa entre esses dois pontos; e cabe a nós a
escolha priorizando a reta razão num jogo entre esses dois contrários: Emoção X Razão.
Cap.
VII – Algumas escolhas
“Difícil atingir o alvo” (1106b30). Difícil acertar o meio-termo, a
virtude entre dois vícios: excesso e falta.
Coragem: meio-termo entre os sentimentos de medo e de
confiança. Os que excedem na audácia tornam-se temerários; e os que
excedem no medo, covardes;
Temperança: entre prazeres e dores. O excesso, intemperança;
a falta, insensibilidade;
Liberalidade (generosidade): o excesso torna o sujeito pródigo;
a falta, avarento. E neste caso, são deficientes e excedem de maneira
opostas: o primeiro excede no gastar e é deficiente no receber; o segundo
excede no receber e é deficiente no gastar;
Magnificência (este se refere à grandes volumes): o excesso, a vulgaridade e mau
gosto; a falta, mesquinhez;
Honra: o excesso, vaidade, ambição; a falta, humildade
indébita, desambição;
Cólera moderada ou calma: o excesso, irascibilidade; a falta, pacatez;
Três termos com relação às palavras no discurso, onde também o
meio termo é louvável e os extremos nem louváveis nem corretos, mas dignos de
censura:
Veracidade o excesso, jactância, arrogância,
fanfarrice; a falta, falsa modéstia;
Espirituoso: o excesso, a chocarrice, o jocoso, a insolência; a
falta, o rústico;
Amabilidade: o excesso torna o sujeito obsequioso quando
não há nenhum propósito determinado, e lisonjeiro se visa o interesse
próprio; a falta, mal-humorado, rixento.
Meios-termos nas paixões:
Modesto: o excesso, acanhado, pois se envergonha de tudo; a
falta, o despudorado;
Indignação: o excesso, a inveja (aflige-se com toda boa fortuna
alheia); a falta, o despeito, a decepção.
Cap.
VIII – Três disposições
São três
as disposições, duas delas são vícios (excesso e falta), e a
terceira uma virtude, o meio-termo.
E “cada uma delas se opõe às outras duas, pois cada
disposição extrema é contrária tanto ao meio-termo como ao outro extremo, e o
meio termo é contrário a ambos os extremos” (1108b10).
Maior contrariedade: “A maior contrariedade é a que se observa entre os
extremos, e não destes para com o meio termo” (1108b26). Ou seja, há uma maior proximidade entre o meio-termo e
um dos extremos (os dois que mais se assemelham), “como a temeridade com a
coragem e a prodigalidade com a liberalidade” (1108b31); o contrário, uma maior deficiência (mais
dessemelhantes), a exemplo da covardia que mais se opõe à coragem.
Substãncia X Sujeito: parte da disposição é causas inerente, por natureza,
à própria coisa. “A outra reside em nós mesmos, pois aquilo para que mais tendemos
por natureza nos parece mais contrário ao meio-termo. Por exemplo, nós próprios
tendemos mais naturalmente para os prazeres, e por isso somos mais facilmente
levados à intemperança do que a contenção” (1109a10).
“Mais contrários ao meio-termo aqueles extremos a que nos deixamos
arrastar com mais frequência” (1109a16).
Cap.
IX – A virtude moral é um meio-termo
A virtude moral é um
meio-termo: E “meio-termo entre dois vícios, um dos quais envolve excesso e o outro
deficiência, e isso porque a sua natureza é visar à mediania nas paixões e nos
atos” (1109a20).
Veja que não é fácil ser bom e virtuoso. Difícil acertar o que convém,
com precisão, “na medida, na ocasião, pelo motivo e da melhor maneira que
convém” (1109a27). Por isso a virtude é tão louvável, pois ela se encontra numa mediania entre
dois vícios, dois extremos, sendo que um é sempre mais vicioso do que o outro.
Relembrando o exemplo virtuoso da coragem, temos o vício da covardia como mais
extremo e errôneo do que o vício da temeridade, esse, mais afinado com a
coragem. E “Quem visa ao meio-termo deve primeiro afastar-se do que lhe é mais
contrário” (1109a30), do erro, esforçando-se em seguir na direção oposta. Alerta ainda o
filósofo para que tenhamos uma especial atenção para com as coisas do prazer, “pois
não podemos julgá-la com imparcialidade” (1109b9), e tendemos a exceder.
Conclusão: “Em todas as coisas o meio-termo é digno de ser
louvado, mas que às vezes devemos inclinar-nos para o excesso e outras vezes
para a deficiência. Efetivamente, essa é a maneira mais fácil de atingir o
meio-termo e o que é certo” (1109a25).
[2] ARISTÓTELES (348-322 a.C). Metafísica : livro 1 e
livro 2 ; Ética a Nicômaco ; Poética ; seleção de textos de José Américo Motta
Pesanha ; trad. Vincenzo Cocco; -- São Paulo : Abril Cultural, 1979. (Os
pensadores); e ZINGANO, Marco. Aristóteles : tratado da virtude moral
; Ethica Nicomachea I 13 - III 8, Obras comentadas. -- São Paulo : Odysseus
Editora, 2008;
Texto Completo: ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco.
Muito bom, bem explicado e dividido. =)
ResponderExcluirMe ajudou imensamente
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