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terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Ética a Nicômaco. Liv III, cap 6 – 9: As Virtudes

Cap. VI As Virtudes

“A virtude se relaciona com paixões e ações” (1109b30)*.

Coragem: “meio termo em relação aos sentimentos de medo e confiança” (1115a5). E coragem diante de coisas terríveis, aquelas que se apresentam além das forças humanas. “O homem corajoso é capaz de fazer frente ao que aterroriza o comum das pessoas” (1115a26).

Cap. VII O Bravo

Os que excedem na audácia tornam-se temerários; e os que excedem no medo, covardes. A virtude se revela naqueles que enfrentam as coisas “como devem e como prescreve a regra, a bem da honra; pois essa é a finalidade da virtude” (1115b13).

O Bravo: “o homem que enfrenta e teme as coisas que deve e pelo devido motivo, da maneira e na ocasião devidas, e que mostra confiança nas condições correspondentes, é bravo; porque o homem bravo sente e age conforme os méritos do caso e do modo que a regra prescreve” (1115b17).

O homem Bravo age de acordo como lhe aponta a coragem, lembrando que “o fim de toda a atividade é a conformidade com a correspondente disposição de caráter” (1115b21); ou seja, cada atividade é definida pelo seu fim, neste caso, a ação honrosa.

Cap. VIII Cinco espécies de Coragem

1. A Coragem do cidadão-soldado (Honra): “a verdadeira coragem” (1116a17). Espécie de coragem que ajuda a enfrentar os perigos dos conflitos bélicos. Honrados os bravos, desonrados os covardes. Virtuoso aquele que sabe atuar reto porque tem “o desejo de um nobre objeto (a honra) e o medo à desonra, que é ignóbil” (1116a29). E “deve-se ser bravo não por coação, e sim porque isso é nobre” (1116b).

2. A experiência com relação a fatos particulares (Conhecimento). Aristóteles recorre novamente ao exemplo da guerra, onde os melhores soldados são aqueles mais experientes, profissionais, que já não se assustam levianamente com os alarmes infundados e sabem fazer bom uso das armas e dos equipamentos. E está convicção se dá por conta da experiência, por terem maior conhecimento da realidade.

3. Os que agem sob o impulso da Paixão: estes, “agem com mira na honra, mas são auxiliados pela paixão” (1116b30). Mas não porque são impelidas pela dor ou uma paixão irracional, a força de uma emoção, diante do perigo, e, sim, “quando se lhe ajuntam a escolha e o motivo” (1117a4).

4. Os confiantes (Otimistas): estes se assemelham aos bravos por conta de se mostrarem confiantes diante de um perigo que já venceram muitas vezes. Diferem daqueles que conhecem, pois estes, assim como os bêbados, “supõem serem os mais fortes e incapazes de sofrer o que quer que seja” (1117a13).

Maior ainda quando isso se deve a “uma disposição de caráter e menos da preparação; os atos previstos podem ser escolhidos por cálculos e regra, mas os atos imprevistos devem estar de acordo com a disposição de caráter do agente” (1117a20).

5. Ignorância: estes ignoram o perigo. Agem assim como aqueles que agem impelidos pela paixão ou porque são otimistas, mas agem sem confiança, e quando reconhecem o erro, fogem do perigo.

Em resumo, muitas eram as coragens, mas a verdadeira coragem se diferenciava de todas elas, e “a marca distintiva do homem bravo era enfrentar as coisas que são e parecem terríveis, porque é nobre fazê-lo e vergonhoso não o fazer” (1117a17).

Cap. IX Coragem e Medo

Coragem: “meio termo em relação aos sentimentos de medo e confiança” (1115a5), mas ela se relaciona melhor com seu contrário, o medo, pois, “é por fazer frente ao que é mais doloroso [maior o medo] que os homens são chamados de bravos” (1117a33). E quanto aos perigos, “ele os enfrentará porque é nobre fazê-lo e vil deixar de fazê-lo” (1117b10). Honrados eram aqueles que podiam escolher os atos nobres na constante prática da guerra. Já os melhores soldados, talvez, os menos bravos, aqueles que não possuem bens, “pois esses vendem suas vidas por uma ninharia” (1117b19).



*ARISTÓTELES (348-322 a.C). Metafísica : livro 1 e livro 2 ; Ética a Nicômaco ; Poética ; seleção de textos de José Américo Motta Pesanha ; trad. Vincenzo Cocco; -- São Paulo : Abril Cultural, 1979. (Os pensadores).

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