£5) Quanto
ao Gênero: "com efeito, o nome do gênero e dos demais não designa a
substância, mas o acidente. Tomamos aquele "o que" mais de acordo com
a propriedade, o acidente, do que a substância". (Abelardo é nominalista).
1. O Gênero: os dez gêneros supremos de
tudo, nos quais inclui as infinitas significações dos nomes de todas as coisas:
substância (οὐσια);
quantidade (ποσόν); qualidade (ποιόν); relação (πρός τι); lugar (ποῦ); tempo
(ποτέ); posição (κεῖσθαι); posse/hábito (ἔχειν); ação (ποιεῖν); efeito/paixão (πάσχειν).
2. A
Espécie: sem a qual não pode haver conhecimento do gênero, sendo um e outro
relativos;
3. A
Diferença: acrescentada ao gênero, perfaz a espécie; posta como divisão do
gênero, desvenda a significação da espécie. Ex.: espécie (humana) = gênero (animal) + diferença (racional);
4. O
Próprio: o que é próprio das categorias; é próprio da substância ser algo,
visto ser una e idêntica numericamente;
5. O
Acidente: distingue a diferença ou o próprio.
£6) O uso das categorias para as
definições, descrições e divisões:
O uso das categorias no jogo da argumentação lógica
com relação às definições.
Há de fato uma definição substancial e uma descrição. A definição
substancial compete apenas à espécie, incluindo o gênero e as diferenças.
Por outro lado, a descrição é
frequentemente derivada dos acidentes. Essas cinco predicações são também
necessárias para as divisões.
£7) O conhecimento desses cinco
serve para descobrir argumentações ou para confirmar as já descobertas, o que
ocorre de acordo com a natureza do gênero e da espécie ou dos demais.
£8) Abelardo retoma Boécio[3] / Porfírio[4] na
questão dos universais: 1.
Gêneros e espécies tem um verdadeiro ser ou consistem apenas de opinião (reais
ou só existem no pensamento); 2. Se verdadeiros, são essências corporais ou
incorporais; 3.
Será que são separados dos sensíveis ou colocados neles?
Questões colocadas por Abelardo:
1. Há imposição
dos nomes universais onde coisas diversas se reúnem (não há universais); 2. intelecção
de nomes universais pela qual nenhuma coisa parece ser concebida (negação dos
universais); 3. relação,
há alguma coisa subordinada através da subordinação (existe o signo); 4.
destruídas a coisa denominada, o universal poderia constar da significação da
intelecção, com no caso do nome 'rosa' quando não há nenhuma das rosas às quais
é comum (Abelardo toma partido do Nominalismo).
Para Abelardo, o Nominalismo admite que
o universal ou conceito é um signo dotado de capacidade de ser predicado de
várias coisas. Para Leibniz, “são nominalistas todos os que acreditam
que, além das substâncias singulares, só existem os nomes puros e, portanto,
eliminam a verdade das coisas abstratas e universais”.
Abelardo cita Boécio que lembra
que Aristóteles admite que os gêneros e as espécies subsistem apenas nos
sensíveis, são, porém, inteligidos fora deles; Platão, no entanto,
admite que eles, não só são inteligidos fora dos sensíveis, mas também que eles
são fora dos sensíveis.
[☆digressão I] O Realismo
(Platão e Aristóteles) e o Nominalismo (Abelardo e Roscelin) constituem
as duas soluções típicas para o problema dos universais. Para o
realismo, o universal é além de conceito mental, a essência necessária ou
substância das coisas. Para o Nominalismo (para a tradição estoica), o
universal é um signo das coisas.
£9) A natureza dos universais:
distinção das propriedades dos universais por meio dos singulares e indaguemos
se elas cabem às palavras ou, também, às coisas. (palavras/nominalismo X
coisas/realismo).
Para Aristóteles: ‘universal’, aquilo
que é apto a ser predicado de muitos; para Porfírio, ‘singular’,
aquilo que é apto a ser predicado de um. Segundo Abelardo, donde se
acolhe que as próprias coisas estão contidas no nome universal.
£10) Aberlardo: Os
nomes/palavras são chamados de universais - serve de termos-predicados das
preposições. Segundo Aristóteles, o ‘gênero’ determina a
qualidade quanto à substância, pois ele significa como ‘algo é’. Para Boécio,
é muito útil saber que o ‘gênero’ é de certo modo uma semelhança única
de muitas espécies, a qual revela a ‘concordância substancial’ de todas
elas.
Diz Abelardo: é próprio das ‘palavras’
significar ou revelar, e das 'coisas', serem significadas. O vocábulo de nome
predica-se de muitos nomes e é de certo modo uma espécie contendo indivíduos
sob si mesma. Há palavras universais às quais somente se atribui a função de
servir de termos-predicados das proposições.
A negação dos universais:
Para Abelardo, parece que nenhuma coisa, nem
coleção alguma de coisas, pode ser predicada de muitos tomando um a um, sendo
tal a exigência própria do universal. Pois, embora este ‘povo’ ou esta ‘casa’
ou ‘Sócrates’ possam ser afirmados de todas as suas partes ao mesmo tempo,
ninguém diz absolutamente que são universais, uma vez que a sua atribuição não
se aplica a cada uma delas.
A coisa universal
para alguns: uma substância essencialmente a mesma é colocada em coisas que
diferem umas das outras pelas formas (essência material dos singulares que
diferem entre si por meio dos acidentes), acomodando formas diferentes à
essência que permanece sempre a mesma. Ex.: em cada um dos homens, diferentes
numericamente, está presente a mesma substância do homem que aqui se torna
Platão.
Porfirio: pela participação da espécie,
muitos homens são um só, mas nos particulares o único e comum é muitos.
E indivíduo porque cada um deles resulta
das propriedades cuja coleção não se encontra em nenhum outro.
Abelardo refuta Porfírio: os
mesmos colocam uma só e mesma substância de
animal em cada um dos vários animais diferentes quanto à espécie, a qual fazem
entrar nessas diferentes espécies pela recepção de diversas diferenças, tal
como se desta cera eu fizesse, ora a estátua de um homem, ora a estátua de um
boi, acomodando as formas diferentes à essência que permanece a mesma. É
preciso, porém, ter em consideração que a mesma
cera não constitui as estátuas ao mesmo
tempo, como se admite no caso dos universais.
£11) Boécio -
o ‘universal’ é de tal forma comum, que o mesmo está todo ao mesmo
tempo nos diferentes dos quais constitui materialmente a substância, embora
seja em si mesmo universal, o mesmo é ‘singular’ pelas formas que se lhe
acrescentam no modo atual - sendo ‘universal’ em natureza, mas ‘singular’
em ato, é inteligido como incorpóreo e não-sensível na simplicidade
de sua universalidade, mas o mesmo subsiste em ato de modo corpóreo
e sensível por meio dos acidentes. Subsiste como ‘singulares’ e são
inteligidos como ‘universais’.
Abelardo refuta Boécio: a
física se opõe aos contrários. Os contrarios,
na forma de Boécio, estariam simultaneamente presentes no mesmo; não
seriam contrários quando se encontram, ao mesmo
tempo, em absolutamente a mesma
essência (o animal racional seria o animal irracional).
£12) Abelardo
refuta a universalidade:
Há alguns que acreditam que “a essência de todas as
coisas seria apenas os dez gêneros supremos, uma vez que cada um dos
predicamentos (dos dez) reconhece-se apenas uma essência que diversifica
pelas formas dos seus singulares e sem elas não haveria diversidade. Por
conseguinte, assim como todas as substâncias seriam o mesmo, assim como todas
as qualidades, quantidades, etc. Nenhuma diferença poderia provir das formas
que, consideradas em si mesmas, não são diferentes, assim como as substâncias
também não o são”.
£13) Abelardo contesta
que uma essência absolutamente idêntica exista simultaneamente em diversos.
As coisas singulares não apenas são diferentes entre si pelas formas, mas são
pessoalmente distintas na sua essência e que, de modo algum, aquilo que está
em uma, matéria ou forma, está na outra. Existe na própria diversidade
da essência. A distinção dos predicamentos é determinada por essa
diversidade. Deste modo, os ‘universais’ conforme um acordo de
semelhança, “todos os homens distintos de si mesmo são o mesmo homem”, não
ao que é essencialmente, mas indiferente conforme a diferença, a distinção que
chamam de singulares.
£14) Parece então concordar com Boécio
no que diz que "não se deve julgar que a espécie seja outra coisa
senão o pensamento da semelhança substancial dos
indivíduos coligidas no ‘gênero’, da semelhança das espécies
coligidas". De outra forma, não se teria, na coisa universal a
predicação a vários ou a continência de muitos, e os universais não seriam
menos numerosos que os singulares.
£15) segundo a lógica da universalidade:
uma coleção do quer que seja é um todo integral. O todo universal é
anterior ao seus próprios indivíduos. A diferença entre o todo integral e
universal é que a parte não é o mesmo que o todo, mas a espécie é sempre o
mesmo que o gênero (a coleção inteira de homens é a multidão dos animais).
£16) Segundo Abelardo, as
coisas, nem tomadas isoladas nem coletivamente, podem ser chamadas de
universais no que diz respeito a serem predicadas de vários, resta
que confiramos essa universalidade às palavras:
Apelativos <> Próprios (termos gramaticais) X Universais <>
Singulares (termos dialéticos).
Um vocábulo universal é aquele que é
predicado de muitos tomados uma a um, tal como este nome homem, que pode
ser ligado com os nomes particulares de homens segundo a natureza das coisas
subordinadas às quais foi imposto. O ‘universal’ possui apenas força de
predicação.
O vocábulo singular é aquele que é predicado
de um só, como ‘Sócrates’, tomado como nome de um único. Muitos nomes coincidem
numa só palavra (homônimos/equívocos), portanto, quando se determina que o ‘universal’
é predicado de muitos, é também para distingui-lo dos vocábulos equívocos (mesmo nome significado diferente) como
unidade de significação.
£17) Ser ‘predicado’ é poder
está ligado a algo em virtude da enunciação do verbo de ligação ‘é’, como
'homem' pode ser ligado a diversos por meio do verbo substantivo. Essa ligação
diz respeito à natureza das coisas e à apresentação da verdade do seu estado.
As proposições categóricas falsas têm um termo-predicado não disposto na
natureza das coisas.
£18) Os ‘universais’ parecem
não recolher significação alguma das coisas, por não fixarem nenhuma intelecção
de alguma coisa, pois todas as coisas subsistiriam distintas em si mesmas (e já
não seriam comuns mas singulares) e também não se reuniriam em alguma coisa,
pois não há coisa alguma na qual se reúnam. Desse modo, parece que um vocábulo
universal não significa coisa alguma. Mas não é assim.
£19) De fato, eles significam,
de certo modo, coisas diversas por meio da denominação. A palavra
'homem' tanto nomeia cada um dos homens por motivo de uma causa comum (que são
homens), pelo que é denominada universal, como constitui certa intelecção em
comum, dos quais concebe uma semelhança comum.
Causa comum
segundo o qual o nome universal é imposto, ou significação dos universais
quanto às coisas pela denominação: cada um dos homens, distintos um dos outros,
embora difiram tanto pela própria essência quanto pelas formas, se reúnem nisto
que são homens (Ser homem), o que não é uma coisa, mas aquilo que denominamos
causa comum da imposição do nome a cada um, conforme eles se reúnem uns com os
outros. E assim, se impõem uma denominação que é concebida à semelhança de
algo comum.
£20) A concepção da intelecção
da semelhança comum das coisas: tanto as sensações quanto a intelecção são
próprias da alma. Para a intelecção basta a semelhança da coisa que o próprio
espírito elabora para si. É uma certa ação da alma e a forma para que se dirige
é uma certa coisa imaginária, fictícia. Ora, as verdadeiras dimensões de um
corpo inerem senão ao próprio corpo e nem a intelecção, nem alguma essência
verdadeira podem ser enformadas por uma qualidade fictícia.
£21) O nome universal
concebe uma imagem comum e confusa de muitos; a palavra singular
apreende a forma própria e singular de um só.
Em 'homem' há uma certa semelhança com cada um dos homens que é comum a todos
mas não é próprio de nenhum; em Sócrates, que introduz no espírito a forma
própria de um único, um nome singular, uma coisa pode ser nomeada, certificada
e determinada.
£23) Os próprios ‘universais’
engendram mais intelecção do que opinião, pois a sua imposição está mais de
acordo com sua própria natureza ou propriedades inerentes e, embora sejam de
significação confusa quanto as essências denominadas, dirigem o espírito do
ouvinte para aquela concepção comum, assim como os nomes próprios para a
coisa única que significam.
Porfirio: certas coisas são
constituídas de matéria e forma, outras à semelhança de matéria e forma. Boécio:
o pensamento coligido da semelhança de muitos é um gênero ou espécie. Platão:
a concepção de universalidade não predica de muitos, como em Aristóteles, mas à
semelhança de muitos que existem e subsistem fora dos corpos (nous).
£24) A querela dos universais entre
Platão e Aristóteles
Segundo Abelardo, Platão pensa que a
natureza dos universais subsiste naturalmente em si mesma de tal modo que
conservaria seu ‘ser’ se não estivesse sujeita à sensação [substancialização]
e, de acordo com este ser natural, é chamado de universal. Já Aristóteles
diz que os universais subsistem sempre nos sensíveis, e ele o diz quanto ao ato,
porque, evidentemente, aquela natureza que é o animal, designada pelo nome
universal e, de acordo com isso chamada universal por certa transferência,
nunca é encontrada em ato a não ser na coisa sensível. Os dois
concordam que as formas comuns concebidas são designadas pelos nomes
universais. A razão parece também concordar.
Abelardo e o Nominalismo: A
natureza dos universais sendo diferente da intelecção (como em Platão) e da
coisa (como em Aristóteles) surge concebê-la pelos nomes, senão serem significadas
por eles. Os nomes, uma terceira significação para os universais.
CONTINUA: Pedro Abelardo - Lógica para principiantes III
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ResponderExcluirSegue: http://www.academia.edu/5659634/ABELARDO_Pedro_-_L%C3%B3gica_para_Principiantes
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